É-se surrealista porque se é surrealista! NO CENTENÁRIO DE MÁRIO CESARINY
TORRE DO TOMBO | MOSTRA DOCUMENTAL E BIBLIOGRÁFICA
24 janeiro – 11 abril 2023
“Eu acho que se é surrealista, não é porque se pinta uma ave, ou um porco de pernas para o ar. É-se surrealista porque se é surrealista!”
Mário Cesariny de Vasconcelos (1923- 2006), poeta e pintor, encontra no movimento surrealista o espaço de liberdade criativa, sem imposições estéticas ou morais, adequado à sua personalidade inquieta, polémica e contestatária.
Na viagem que realiza a Paris, em 1947, conhece o surrealista André Breton que o influenciaria no seu regresso, ainda nesse ano, a impulsionar a criação do Grupo Surrealista de Lisboa, ao lado de figuras como António Pedro, Cândido Costa Pinto, João Moniz Pereira ou Alexandre O´Neill. Aqui desempenhará uma intensa atividade com intervenção em conferências, na publicação de folhas volantes coletivas e individuais, na organização de antologias – Antologia Surrealista do Cadáver Esquisito de 1961; Surreal/Abjeccionismo de 1963; A Intervenção Surrealista de 1966; 50º. Aniversário do Primeiro Manifesto Surrealista de 1974; Horta de Literatura de Cordel, antologia de 1983, entre outras. Ao longo do tempo envolve-se em confrontos e polémicas entre grupos surgidos no seio do movimento.
Colabora em várias revistas estrangeiras e publica traduções de autores do movimento surrealista tais como Jean-Arthur Rimbaud ou Antonin Artaud, entre outros.
Os seus poemas são apresentados por agentes artísticos, como Óscar Alves e Vasco Morgado, à Comissão de Exame e Classificação de Espetáculos para aprovação e consequente apresentação em saraus, sendo alguns reprovados.
Nos finais dos anos 70, princípio dos 80, submete vários pedidos de subsídios à então Secretaria de Estado da Cultura para a realização de um trabalho sobre o surrealismo em Portugal, Espanha e Brasil. Em 1984 realiza a exposição “ Mário Cesariny e a intervenção surrealista”, da responsabilidade do Teatro Ibérico, com a presença de várias obras de autores estrangeiros, comissariada pelo pintor José Lima de Freitas.
Os arquivos guardam memórias. Alguma da memória deste percurso de vida é apresentada nesta mostra documental e bibliográfica com que o Arquivo Nacional da Torre do Tombo se associa à comemoração do centenário de nascimento de Mário Cesariny . Mostram-se documentos da Polícia de Informação e Defesa do Estado (PIDE); do Tribunal Plenário de Lisboa; do Secretariado Nacional de Informação (SNI); da Secretaria de Estado da Cultura. Presente também a obra do autor, Antologia Poética, a sua tradução de Iluminações – Uma cerveja no inferno, de Rimbaud, e Verso de autografia : Miguel Gonçalves Mendes conversa com Mário Cesariny.
DSIEQ, janeiro de 2023 |